Pensando em Kurosawa
Na minha cidade não havia bondes.
Mas sei que os perdi. Várias vezes.
Certa feita, peguei o destino e me fui
A um lugar onde não soube remar.
Encontrei bondes que não eram meus.
E meus barcos e velas submergiram
No asfalto de minha indefinição.
Voltei. E continuei vendo bondes
Imaginários, passando dosdeskaden
Defronte meu coração de fantasia,
No relógio imenso e febril da estação
Do trem, que velejava por cafezais.
Talvez por isso não me tinha cais,
Nem mar, baía ou costa navegável.
Apenas vielas e córregos interiores
Pensados como uma imensidão.
Hoje sei que foram vidas que perdi.
Uma a uma se extinguiram no agravo
Do amarelo de abandono. Passei
A locomover-me por versos singrados
Nos trilhos, que se tornaram fábulas
De mim mesmo. Com montanhas, bondes
E lagos. Todos eles de Era uma vez.
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