AMOROSOS (2009)
Dedicado ao cantor e compositor Roberto Carlos, que influenciou estes versos.
”Mas quem é esta misteriosa que é como um círio que não se apaga crepitando o peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?
VINÍCIUS DE MORAES
ESCURIDÃO
”Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo”
SOFHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Amamos a pele buscando o sonho.
Tentando sublimar o espírito,
entregando-nos por inteiros na exigência da posso de que amamos.
Amamoso tempo todo em frágil teia.
Espreitando portas,
auscultando sinais,
espremendo a emoção.
Amamos o tempo todo em receio.
Amamos a vida inteira no escuro.
Amamos o curto tempo de certezas.
Amamos para sermos inteiros e acabamos sempre aos pedaços.
Amamos muito, até à exaustão.
Na surpresa do desamor, recolhemos retalhos e os cozemos com lágrimas
E aprendemos que amar não é senão duvidar.
E esse é o mistério que nos move.
Depois, apartados do que não entendemos, seguimos em frente
tentando nos agarrar naquilo que nem sabemos mais o nome que tem.
Amar é usar o verbo que apenas se diz, nunca se fala.
Amar é incertar.
Não te quero minha.
Não te quero com um presente.
Não te quero como uma flor que se colhe,
olha e guarda entre páginas de livro.
Nem te quero em minhas mãos,
aprisionada de paixão.
Tampouco quero-te divina, inatingível,
a dona dos meus versos.
Quero-te apenas como a madrugada quer a aurora.
Para reviver-me com os raios de sol que nascem de ti.
Quero-te assim: canção da manhã.
Para que eu possa saber que existo,
enquanto me iluminas.
Parto em tua direção
mesmo sabendo que estás distante.
Mesmo sabendo que entre nós há um vale
se sonho distante
Parto em tua direção
como quem busca um diamante
Mesmo sabendo que jamais
ficarei perto de teu sorriso iluminante.
Parto em tua direção com desejo de renascer,
nem que por só um instante.
Parto em tua direção e navego em ti
pela lua, nesta viagem delirante.
O que é, afinal, este amor
que cada dia que passa
ao meu coração proclamo?
De onde veio, onde brotou?
Numa noite de chuva
ou foi quando o céu se estrelou?
Veio pela colina do tempo
ou escorreu por esta solidão
de que tanto reclamo?
Apareceu em mi
ou nasceu aqui mesmo
num verso que nunca declamo?
Não é necessário resposta
quando me sinto feliz
com essa lágrima que derramo;
mesmo sabendo que de onde veio,
o vento afasta qualquer dúvida
quando penso que te amo.
Quando penso em ti,
lembro a figura de um pássaro azul,
celebrando a vida com seu gorjeio.
E assim, voas e me carregas junto.
Vamos até a mais alta montanha,
entre escarpas perigosas,
onde me tiras qualquer receio.
E percebo a verdade única,
que teu olhar de silêncio
murmura: que teu amor
é um campo de esteio.
Depois, pousas em meu colo
e me tocas levemente
e o mundo se aninha como criança
da doçura do teu seio.
O que é o longe para o pensamento?
Que é a ausência para o coração?
De que forma sofrer se temos a lembrança?
Os mosaicos de momentos já nos perpetuaram
juntos, colados como um beijo de amor.
Se vivermos pelo menos um só instante
já temos uma vida a celebrar.
Se falta um contato de pele,
sobra, dentro de nós, a ternura do sorriso,
este de uma saudade ao redor, dançante
e efusiva; saudade de fechar os olhos
e poder ver; este sorriso de recordar.
A distancia apenas separa o corpo,
nunca a alma.
Nesta noite estou contigo.
E conto nossa história
a um estranho amigo.
Conto de nosso jardim
que imagino seja
onde plantaste amor em mim.
Que teu rosto de agora
é uma pálida lembrança
nas sombras desta hora.
Conto com impaciência
que o passado arde
na flor triste de tua ausência.
A palavra sai pura,
meu pensamento voa,
atrás daquela ternura.
O que resta de nós dois
é um eterno depois…
Se te peço que venhas, não fiques no inverno.
Chegues ao meu jardim e veja minhas mãos pedirem-te flores.
Se te peço que venhas, não desejes a noite.
Imagine minha dor, filha pródiga, esperar-te o pouso.
Se te peço que venhas, não ponhas roupa nova.
Espero na sanha do dia, fuga de sonhos, ver-te inteira.
Se te peço que venhas, não roubes a rosa.
Deixe que eu te perfume na saia da madrugada quando chegares.
Se te peço que venhas, não digas nada.
Deixe que meus versos, não digas nada.
Deixes meus versos receber-te, cálida, funda e serena.
Se te peço que venhas, deixo-me por um instante.
Só voltarei a existir quando aqui estiveres.
Linda e bem-vinda.
A ar é ter-se.
Amar é rir-se.
Amar é saber-se.
Amar é seduzir-se.
Amar é cheirar-se.
Amar é nunca doer-se.
Amar é acamar-se.
Amar é amar-se, com um travesseiro em nossa cama.
Amar é não explicar-se.
Talvez, antecipando o tempo, encontro o paraíso.
Muito mais que conforto, a sensação de descobrir o bem preciso.
Penso estar louco, mas não, lá está ele, soberano e luzente.
Na emanação do seu sorriso.
Teu olhar entra em mim e tomas posse do meu dia.
Como um beija-flor buscas a vida no meu resto de alegria,
que reparto na noite ninfa com a tua fotografia.
Naquela árvore dança a folha.
Quem ama não de e deixar que a colha.
Mas, caso seja um coração, afague, recolha.
Névoas no sentimento quando a noite já vai alta.
Procuro relembrar tempos que sorria com você
e não havia esta dor que me salta.
Como não querendo entender que descaminhos existem
não tenho outra saída senão pedir-lhe perdão
por sentir tanto a tua falta.
Na noite, procuro o sono.
Olhos cinzas, flor do mal, abandono.
Ao sentir que estás aqui, dissolvo-me
dentro do quarto e me emociono.
Aí, tu te transformas em chuva leve,
folhas de outono.
Um pássaro triste na janela logo cedo.
Penso em tua ausência, morro de medo.
Outrora, apenas sorriria, quando rochedo.
Mas, agora, escravizado que sou, sofro em segredo.
De nada adianta esconderes algo de mim.
Teus olhos contam.
De nada adianta não me contares tuas vontades.
Teus olhos te devassam.
De nada adianta reprimires teu afeto.
Teus olhos me dizem de forma clara.
De nada resolve te manteres calada.
Teus olhos conversam comigo.
De nada adianta só me dIzeres não.
Teus olhos discordam de ti.
De nada adianta me negares um olhar.
Teus olhos já se instalaram dentro do meu coração.
Sobre você no porta-retrato pousa um besouro.
Não sei, inseguro que sou, se é bom ou mau agouro.
O instinto de apego bate forte
quando percebo que posso perder meu maior tesouro.
Da tempestade, dizem, viceja a bonança.
Do amor que se vai, nasce a lembrança.
E o amor que há de vir, cavalga a esperança.
Ensaiei a sinfonia do Sol, mas escureceste.
Voei os mares gregos, mas estancaste.
Busquei a jazida do azul, mas escureceste.
Atravessei a linha de toda uma vida, mas desamaste.
Teci a aurora das cores, mas defizeste.
Plantei jardins no mundo, mas não vieste.
Cuidado com o amor descuidado,
mesmo com cheiro de baunilha.
Acaba nos deixando sozinhos
como a dor de uma ilha.
Nao pode ser amor
o que nos ata ao chão
feito armadilha.