E minha alma, sem luz nem tenda
Passa errante, na noite má,
À procura de quem me entenda
E de quem me consolará…
Cecília Meireles
Minha alma é conviva da vida,
Desgarrada de quaisquer mortes.
Precisa do ar de que me sirvo,
Da dor que me ativa, do som
Das calçadas. A minha alma
Só mostra do futuro meu medo.
Tudo nela não jaz. Tudo nela
Segue a natureza que me habita.
A minha alma prepara versos
Em estados de argila e despeja
Em minhas mãos que os tomam.
Depois, vestida de alívio, segue
Seu destino de estar atenta
Aos meus passos, que tropeçarão
Nas próximas esquinas e febres.
A minha alma ensina ao meu eu
Que a imite, que embole a vida
E a arte no mesmo balaio,
Desde que se mantenham longe
Vocábulos que não as diferencie,
Os inexatos, que dizem nada.
E quando descanso meu corpo,
Minha alma sonha com caminhos
E se prepara para escalar etapas
Das dúvidas que nasceram antes
Da carga que lhes impôs minha vida.
Quando me sente triste, me agrada
E se desvela eterna, companheira
Para todo o obscuro do amanhã.
Põe as mãos sobre minha cabeça
E diz para em nada se desacreditar,
Que a vida, assim como a poesia,
Em suas essências, são mistérios
Que elevam o Espírito que nos tem.
A minha alma é o meu travesseiro.
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