Minha atenção ao Brasil está parecido com um pisca-pisca de árvore de Natal.
Entre sorrir e espantar já não há mais um hiato para descanso. A intermitência de fatos que altera minhas emoções é maior que a velocidade de meu pulso.
Alfredo Rossetti
Minha atenção ao Brasil está parecido com um pisca-pisca de árvore de Natal.
Entre sorrir e espantar já não há mais um hiato para descanso. A intermitência de fatos que altera minhas emoções é maior que a velocidade de meu pulso.
Não gosto muito de falar sobre meus sonhos; apenas estão ali, no armário da alma, à espera d’eu contar as gotas e tomar. É a minha receita de vida, aviada pelo pássaro que pousa sempre na minha janela. Vez em quando, canta. Outras, apenas se coça com o bico, me ignora e voa.
O que é alcançar o 70? Há pódio nisso? E esta avalanche de ecos de difusas vozes interiores, premiam? Um antigo verso do Espiral diz que “a vida veio embora, me trouxe”. Se simples assim como a poesia, cheguei. Quer dizer, afora esta ansiedade primitiva, estou chegando, ainda. Com esta história de tempo humano, nunca se sabe.
O pingo de leite
dependurou-se no queixo
da vovó como um incômodo.
(para mim)
Ela sorriu. E nem viu o pingo.
As avós sorriem
enquanto nos arrependemos.
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Fui escrever um verso triste e algo deu errado: palavras dançantes me mostraram a janela. Fui ver a janela. As palavras gritaram – olha só para o sol! Daí este sorriso amarelo-imbecil.
Não se fiem muito em poemas e bocas. A poesia é muito maior que palavras e poetas.
Se não gostou do meu verso,
me alerto.
Se meu verso nada lhe disse,
peço desculpas.
Se meu verso doeu,
cuide-se.
Se viu meu verso com asas,
sorrio.
Se meu verso iluminou a boca da noite,
lisonjeio-me.
Mas se meu verso não lhe fez pensar,
aí temo você.
A poesia sempre fustiga. Não é de seu feitio ser o doce de coco. Ela é sempre o coco que despenca. E não serve a quem se sentou embaixo do coqueiro só para dormir.
Envelhecer é uma luta nossa com o tempo e nada de tão ruim existe nisso.
O pior, o trágico, aquilo que desnorteia é o envelhecer-se.
Uma dor de alma, que nem boas lembranças apaziguam, pois quando neste estado, elas desaparecem.
Exercício de elevação espiritual: trocar a cada dia uma palavra dita por uma silenciada.
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