Na beira deste ribeirão
Bem longe do Pantanal
Uma garça destoa da paisagem
Não por estranha
Mas por bela branca altiva
Antes de ver o tudo ali
Eu já sabia deste poema
Adormecido
6.8.19
Alfredo Rossetti
Na beira deste ribeirão
Bem longe do Pantanal
Uma garça destoa da paisagem
Não por estranha
Mas por bela branca altiva
Antes de ver o tudo ali
Eu já sabia deste poema
Adormecido
6.8.19
Quando eu morrer,
peço que joguem minhas cinzas
em qualquer rio,
menos no Tietê.
Pela vida afora,
já me fartei de viver
longe do mar.
26.7.19
Um anúncio de bar
me puxa pelo braço:
dois disso mais um
daquilo pelo preço
de menos um seja lá.
Não me apetece.
Mesmo assim com
olhos de estômago
no amarelo cartaz,
descomo um poema
e penso no Oswald.
10.4.17
só
forte tino
sol
enxada à pino
solo
crendospadre, desatino
a sorte
o corte cerce
de ser dor, destino
30.10.91
I
A vingança da viúva negra
Foi logo após o amor
Não foi o machado
Não foi o fuzil
Foi logo após o amor
Tudo de passou em branco e preto
Com agradável cheiro de eucalipto
II
O adolescente criou
Sentiu nos olhos a incapacidade de grande guerra
Logo amou
Fardado de leviandade
Coçou o ouvido esquerdo
E morreu
A fumaça da locomotiva
Contou esta fábula
Em dezesseis milímetros
III
Afirmou a covardia
Temendo não mais lavar seus pés
Na água quente (morna)
Ficou a vender
Botões e fitas de rendas
Sangradas e inexistentes
Deixou-se lamber pelo cão pedrês
Sonhou um homem iluminado
No mundo fascita
Sonho cadáver no seio da manhã
Das marchas e diáspora
Era (foi) um ladrão de verdades
14.12.74
A minha solidão nasceu
de uma esquina não dobrada,
num tempo descompassado.
que não guarda certezas
lembranças ou imagens.
Pode ser até um todo do tempo
que tive, um sem cessar carrossel
sem música.
Fiquei só por estar ao longe
do que não me faria sentir estranho.
(na verdade
nem sei se minha solidão nasceu
pode ser uma natimorta
e a esquina nunca existiu
e eu apenas um alguém
com a cabeça sob um eterno sereno)
12.7.18
Um relativístico a quicar
defronte olhos cansados
de ritos, quase mitos,
impregnam-nos de muletas
eletrônicas.
Imagens já obsoletas
as que nasceram
no último por do sol,
trôpegos em Android,
fraturas em IOS.
Não há mais tempo
de expiração. Vivemos
um preceder dentro
de um brejo.
16.6.16
O poeta sabe onde pisa
se pisa no seu vácuo.
Um estado assim
de considerar como seu
pote de ouro,
sua cabeceira da cama.
Sabe andar nas estrelas
e não cultiva flores no chão.
O poeta finca
mistérios não seus,
mas nunca nina
suas palavras consumadas.
O poeta é todo busca
mas não sem fim
posto a poesia ser finda
em si mesma, companheira
eterna de instantes.
Com um palito de fósforo:
único, solitário e essencial.
19.11.11
Entre eu e Fernando Pessoa
há, além do junho,
um Mário, como maior amigo.
De resto, doei-lhe
meus olhos a vida inteira.
25.1.13
A minh’alma,
dona de seu nariz,
já me deixou claro:
“não podes comigo”
Mas prometeu
momentos em
que eu possa
orgulhar-me dela.
Enquanto espero,
sinto-me como
os dois Taviani(s)
tentanto domar
Gian Maria Volonté.
(Engraçado é que eu pensei neste poema
como um libelo contra a delinquência
metafísica.Acabou-se em viagem.
Entre continentes e metáforas inoportunas;
no final, tem até um sorriso meio alquímico).
21.7.13