deparo com a palavra desconhecida
tento intuir o que seja – o que me diz
apelo ao contexto da frase – do parágrafo
da história do que já percorri – do copo
sempre cheio do autor
(mas despudorada rainha e fatal
diz-me tolo)
no dicionário lá está ela soberba
já sem o mistério de antes
mas com o mesmo sorriso
de anjo e meretriz que adivinho
que desde a escolhida
pudesse falaria a ela
que a sonoridade que retumba
é maior que o seu reles significado
talvez a desabasse deste brilho
que atordoou minha vida de leitor
atento e pobre buscador de vocábulos
que me sejam combustão para meus dias
não sigo mais a leitura
sobre mim um engano de vida toda
a incógnita que avassala o pensamento:
ao ler não sou o dono do meu olhar
as palavras frases linhas e a solidão
do autor diante de mim é que me leem
no instante de leitura são meus olhos
porta de entrada de meu ser
com amável e guerrilheira aventura
tomam-me posse
sem licença nem pressa