Em memória de Itamar Assumpção, criador.
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trunca-se
(tempo, temporais)
a vanguarda
a poesia
(fogo, fornalha)
se resguarda
tempo, temo-te
temo-te tanto
tempo de pranto
temo-te
temo-te, vento
do tempo voltário
temo-te muito
movente
tempo vário
mundhoje
1.
a vida arrastada pela correnteza dessa era semovente. – sem um sibilo
a confirmar: os trilhos de ferro nunca mais se encontrarão para amar
2.
o mortal primata
toma o mato
extirpa o curupira
mata a mata
fazdeconta que respira
e expira
na sucata
3.
o mundo velho de guerra
acorda/dorme em guerra
o mundo do reclame:
um mitômano vexame
o novo mundo bytexpandido
cheio de bandidos
sobrou o onde
esteja o onde
onde o onde
se esconde
4.
o fuga-dor é ator
no mundhoje alterna dor
mais que fingidor gera dor
o monitor gera o fuga-dor
5.
só se fala uma fala
a fala mesma
a fala leite
a fala jeans
a fala TreVa trava a fala
a vanifala
afala as bocas
6.
o fast afasta a pausa
o fast afasta o pouso
o fast afasta o gosto
o fast afasta o aposto
7.
SOCIEDADE
SACIEDADE
11.03.2006
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ruidosos
moto passa por meus ouvidos
porta de entrada
à baila da emoção indesejada
a não calmaria desavisa que nada
mais é antes
nas ruas em que rodas triunfantes
freiam a vida – que enfeia
o olho de vidro do ruído ateu
ata meu sonho pigmeu
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casmurros
eu poemo
tu poemas
ele poema
nós poemamos
vós poemais
mas
eles desveneram neologismos
10.04.2005
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godot
para o Henrique França, em saudável contenda
não faço
não vou
no espaço
sou
palhaço
de deus
esperandoestou
9.2.2005
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quixote
o sonho
pó
a vida
mó
27.10.84
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hora perdida
passo pela hora igual – não consigo desfiar a canalhice
da velhice da corrupção na minha poesia inimiga
que importa ao cidadão votado
senão que a consciência lhe diga
de manhã à noite
que ética é nunca ser derrotado
essa condição de que nunca há fadiga
nutrida pela pele do lobo pluridentado
protegido pela lei abissal do código superado
que nos enfronha nas mente como intriga
me torna fraco o acordo mutual
permito que essa ambição vocacional siga
enquanto entrelaçada numa rede nacional
minha cidadania me castiga
(mas será que não tenho nada melhor a fazer
do que versos sobre esse imperecível ritual?)
este Brasil é uma porta que me fecha
me desliga
02.02.2006
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jesus cristo
do orto
ao horto
a porta da luz
o preter-natural porto
sem cruz
23.03.2005
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receita
recicle seu passado
faça dele
papel higiênico
9.12.2003
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renovoo
após
o pós
o neo
urde
o retrós
02.07.2005
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passos viscosos
resíduos morais
calcorreiam olhos de ratos
no chão de relvas desalentadas
chão de raízes chorosas
frutos pútridos de urnas inconscias
bocas desdentadas
manhãs que se sonhara radiantes alvoram castradas
o sorriso que gela
o coração em ardência
(instante que a dor sela)
ferida aberta que a notícia traz
repisar no que envergonha
vislumbrar somente vasa
excremento ou peçonha
estigma que consome
o viver sem lustre
vontade inexcedível
de não se querer sequer um nome
18.7.2005
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o trabalho
saber
que o sabor
da fome
que o braço
consome
é o que digna
ao homem
aço
a seu nome
03.03.2005
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as meninas
”tem asas o desejo, a noite é um manto”
BOCAGE
na noite, manto
ocultas no canto
ninguém (nada) é santo
entre
tanto
20.10.2003
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via satélite
o papa morre
a mídia corre
o povo de porre
se socorre
08.04.2005
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espelho
A íris refletida impudente:
– Nem Jekill nem Hide/
– Tu és Spencer Tracy!
27.06.2005
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ao tom zé
diz soante
à baiana
o viva à garoa
alardeia a aldeia
que arde e assoa
viva o vivo
víbora passeando entre pernas
da arte que voa
19.08.1995
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assumpção preto
que faça a massa
nascer o nego de novo
que faça a massa
não mais fritar o ovo
meio pedra
meio mar
me diga esse povo
quem ouviu ele cantar?
meio pedra
meio mar
qual o coletivo de azar?
meio pedra
meio mar
São Paulo a fabular
meio pedra
meio mar
não se esqueça de lembrar
16.02.2005
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orides fontela
aviso aos bandeirantes:
quero ela
não quero sua panela
encravada dentro
da alma de cimento
e ruídos sociais
exubera o branco no papel
na filosofia – o plantão
no verso – o reduto
debaixo da aristocracia
do viaduto
24.07.2006
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a retomada
na via da ida
a retomada amada
retoma o verso
remonta
a página o prefácio o número da página a letra
a retomada amada
frena o verso
do que nasceu antes
o dantes
o louco desta hora
o inventor dos amanhãs
a retomada amrespira e deixa respirar
e permite vez em quando (neste tempo)
que eu passe a língua
no dedo
e vire a página
19.1.2001
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